DESTAQUEMEIO AMBIENTE

Estudo realizado com agricultores e produtores no Médio Juruá avalia impactos causados pelas mudanças climáticas

Trabalho desenvolvido com apoio da Fapeam, demonstra a importância de compreender como a mudança climática impacta e modifica as relações socioecológicas dos ribeirinhos

Identificar as principais cadeias da sociobiodiversidade e os impactos causados pelas mudanças climáticas foram a base de uma pesquisa apoiada pela  Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), desenvolvida com agricultores e produtores, que atuam na Reserva Extrativista do Médio Juruá e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Uacari, localizadas no município de Carauari (distante 788 quilômetros de Manaus).

Coordenada pela doutora em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Mônica Vasconcelos, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o estudo realizado no âmbito do Programa de Fixação de Recursos Humanos para o Interior do Estado: Mestres e Doutores por Calha de Rio (Profix-RH) constatou que entre as principais cadeias identificadas no Médio Juruá estão a borracha, a farinha de mandioca, a pesca do pirarucu manejado, o açaí e os óleos vegetais de andiroba e murumuru.

A pesquisa destaca a importância de entender como as mudanças climáticas estão impactando e transformando as relações socioecológicas dos ribeirinhos na Amazônia. “A agricultura familiar, com a produção de vegetais em geral, e a pesca artesanal são práticas presentes em todas as comunidades investigadas”, reforça a pesquisadora.

Mônica afirma que, durante o estudo, foi possível constatar que as populações residentes nas áreas investigadas identificam com clareza os impactos e perdas nas cadeias da sociobiodiversidade causados pelas mudanças climáticas.

“As populações relataram perdas na produção de borracha, farinha de mandioca e frutos de espécies oleaginosas. O rio tem subido mais rápido e ultrapassado a cota média, dificultando a colheita oportuna da mandioca e dos frutos”, disse a pesquisadora.

Outro ponto destacado pela pesquisadora foi o impacto na cadeia da borracha. O nível elevado dos rios e a duração das cheias extremas têm causado a morte das seringueiras (Hevea brasiliensis), resultando em grandes perdas na produção e na economia dos comunitários. A cadeia da borracha é uma das mais importantes na região do Médio Juruá, desde o ciclo da borracha na Amazônia, afirma Mônica.

Durante o estudo, os entrevistados destacaram os impactos negativos do aumento de temperatura, principalmente na cadeia da farinha de mandioca, por se tratar de um trabalho realizado ao ar livre sob forte exposição ao sol.

 “Esses eventos climáticos extremos têm impactos significativos sobre as populações amazônicas devido à sua profunda relação e dependência com o sistema ambiental, especialmente com os rios”, disse a pesquisadora reforçando que as gravidades desses impactos variam de acordo com a região, e as populações ribeirinhas da Amazônia, são particularmente mais vulneráveis às mudanças climáticas.

Segundo Mônica, eles enfrentam desafios tanto durante anos de secas intensas dos rios, quanto em anos de cheias extremas, além de lidar com o aumento contínuo da temperatura.

Com base no estudo e nos resultados encontrados, foi possível identificar os ajustes adaptativos realizados pelos ribeirinhos para enfrentar as alterações provocadas pelas mudanças climáticas. Esses ajustes podem servir de apoio para o desenvolvimento futuro de tecnologias sociais voltadas para comunidades ribeirinhas em outras regiões da Amazônia, bem como para a criação de modelos de governança adaptados às mudanças climáticas.

As informações acerca desses impactos trouxeram conhecimentos importantes com artigo publicado em periódico internacional disponível em: https://www.mdpi.com/2073-4433/13/12/2018

Fotos: Mônica Vasconcelos/Fapeam

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