POLÍTICA

Para generais, Bolsonaro busca uso político das Forças, perfil como de Villas Bôas no Exército e ‘recados de apoio’ nas redes sociais

Generais do Exército —da ativa e da reserva— ouvidos pelo blog desde ontem concordam que o presidente Bolsonaro quer fazer uso político das Forças Armadas —e que o general Edson Pujol, comandante do Exército, era uma “pedra no sapato” nesses planos do presidente.O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, tentava blindar o comandante do Exército ao mesmo tempo em que se mantinha leal ao presidente Bolsonaro.

Entre as ‘’missões’’ que o presidente gostaria que o general Fernando sinalizasse e que Pujol estivesse alinhado, estão “recados de apoio” nas redes sociais defendendo medidas da pandemia criticadas pelo governo, por exemplo, na área da segurança pública.

Segundo o blog apurou, Pujol deixou claro desde o começo que não faria nenhum gesto ao Executivo. Pior: irritou Bolsonaro quando, durante uma visita do presidente ao Sul, recusou-se a dar a mão para cumprimentá-lo, oferecendo o cotovelo, por medida de segurança contra a Covid.

Bolsonaro estende a mão para cumprimentar autoridades e militares oferem cotovelo

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Mas a situação entre Bolsonaro e Pujol foi ficando insustentável nas últimas semanas, quando o presidente passou a cobrar postagens nas redes sociais de defesa do governo tanto do general Fernando quanto do comandante do Exército. Nas palavras de um interlocutor dos militares, “um perfil parecido com o de Villas Bôas”, ex-comandante do Exército que, apesar de respeitado entre os militares, foi duramente criticado por colegas nas Forças Armadas, políticos e STF por ter postado nas redes sociais, na véspera do julgamento de Lula, em 2019, uma mensagem em tom de ameaça de ruptura institucional.

Bolsonaro, por sua vez, é um fã do general Villas Bôas —e tem preferência por um perfil no Exército que “se intrometa” na política, como avaliam generais ao blog.

O comandante do Exército, Edson Pujol. — Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O comandante do Exército, Edson Pujol. — Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

No entorno do ministro Fernando Azevedo e Silva, interlocutores reforçam que isso jamais aconteceria com Pujol —ficou combinado, desde o começo da sua gestão, que o ministro Fernando e o governo cuidariam “do muro do quartel para fora e, ele, do muro do quartel para dentro”. O ministro Fernando tem excelente relação com Pujol e com os demais comandantes das Forças Armadas —e se recusou algumas vezes a tirar Pujol. No Exército, cansou a insistência do presidente de associar as Forças Armadas ao seu governo. Pujol foi contra a indicação de Eduardo Pazuello —general da ativa— para a Saúde, por exemplo.

Já o ministro Fernando, no papel de equilibrista, deu força a Eduardo Pazuello para ser secretário-executivo, assim como avalizou Braga Netto na Casa Civil e Luiz Eduardo Ramos na Secretaria de Governo. Mas o comando do Exército seguia incomodado com a tentativa de misturar imagens. Reclamou, inclusive, quando Bolsonaro promoveu uma reunião no Alvorada, convocando em maio de 2019 as Forças Armadas, e, no dia seguinte, foi a uma manifestação antidemocrática com discurso insinuando que as forças estavam com ele.

Para acalmar os ânimos, generais que atuam como mediadores, em meio à crise, querem propor o seguinte: Braga Netto assume a Defesa e, após esfriar a crise, o governo pode trocar os comandantes das três Forças Armadas. A expectativa é de que a decisão dos generais sobre essa proposta saia ainda hoje.

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